No post de hoje, no Estadão, Pedro divulgou o texto que o Mauro (um dos sócios e também diretor de duas áreas) escreveu. Às vezes sou bem "chata", confesso, e insisti para o Mauro fazer um registro detalhado e com exemplos. É emocionante acompanhar tão de perto as aprendizagens de cada um. E também as minhas, pois nessa Roda eu me incluí e parei para refletir, registrar e pude partilhar o que tenho aprendido e me transformado nesse processo com as várias Rodas na empresa. Um dia eu conto! Hoje vamos ficar com o Pedro e o Mauro.
A arte de ir em frente sempre. Como pessoa e profissional
1 de julho de 2013
A
transparência inerente às redes sociais que inspirou as pessoas nos protestos
nas ruas também afeta a dinâmica dentro da empresa, conforme falamos no último
post. Assim como as pessoas protestam como cidadãos, elas também
explicitam o seu lado profissional. Nesta nova dinâmica, os líderes devem
cultivar ainda mais a cultura do diálogo e principalmente uma maior
disposição para o seu próprio aprendizado pessoal. Com o diálogo e a interação
com o outro temos mais chances de nos perceber também como pessoa.
Mas qual
é este aprendizado? Crescemos pessoalmente quando quebramos algum paradigma
próprio, aumentando a nossa própria percepção e a do entorno.
Crescimento no respeito para o contexto das pessoas, para a emoção que permeia
as relações humanas e principalmente a vivencia de valores presentes na
subjetividade de cada pessoa em seus diversos papéis na vida. Enfim,
aumentar a nossa sensibilidade do contexto.
Para
discutir mais sobre este incrível tema do aprendizado pessoal, trago abaixo em
destaque o texto de Mauro Back, meu líder e sempre inspirador chefe escoteiro,
que é nosso diretor de TI e da gestão da UAH (ambiente formativo na ClearSale):
‘Todo
profissional é uma pessoa e uma parte importante da pessoa é o profissional.
Dada esta verdade, na Clearsale adotamos a tese de que a pessoa não deve
abandonar seu lado pessoal quando entra na empresa, mas deve, dentro deste
ambiente, viver seu lado pessoal de forma simbiótica para si e para a empresa.
Diante do
exposto, é natural que no processo formativo das pessoas se discuta não só o
crescimento profissional, mas também o pessoal.
A ideia
que me vem quando penso que em crescimento pessoal é que ele é um “crescimento
para mim”. Embora isto possa parecer um tanto egoísta, deixa de sê-lo quando
assumimos que voltar-se “para o outro” é fundamental para desenvolver o “para
mim”.
Tradicionalmente,
sempre que se pensa em educação, e no nosso caso educação corporativa de
adultos, os “currículos” centram-se no saber. Nas escolas e faculdades, o
currículo é uma sucessão fixa de disciplinas com ementas definidas que
essencialmente concentram-se na aquisição de conhecimentos e habilidades. O
foco é saber algo, como saber matemática, ou saber fazer algo, como saber
programar um computador ou saber tocar um piano.
Ocorre
que o desenvolvimento pessoal é muito pobre quando se centra apenas no saber.
Na Clearsale definimos então “5 Ss” para dar integralidade ao crescimento das
pessoas. Os três primeiros “Ss” abrangem subjetividade (capacidade de perceber
a si mesmo e superar comportamentos condicionados), sensibilidade (capacidade
de perceber os outros em profundidade e também os fatos e todas as coisas) e
sociabilidade (capacidade de conviver harmonicamente e contribuir para grupos
de pessoas de todas as dimensões). A arte é um componente forte de
desenvolvimento da sensibilidade e quem toca um instrumento musical sabe que o
saber tocar não é suficiente, mas que a verdadeira emoção da música vem da
sensibilidade que acompanha a execução.
O quinto
S é o meu favorito; sabor, a capacidade de ser feliz e que também é algo que se
pode desenvolver, focando primeiro nas alegrias do dia a dia, mas também na
felicidade conquistada pela realização de objetivos pessoais de mais longo
prazo.
Todos os
“Ss” contribuem com o desenvolvimento pessoal, mas o exercício da profissão tem
realmente uma ligação profunda com o saber. Entretanto é fato sabido que muitas
vezes as pessoas perdem os empregos não por falta de saber, mas por aspectos
comportamentais. Desta forma fica evidente que com o desenvolvimento pessoal a
empresa também tem muito a ganhar e que o desenvolvimento profissional, onde o
ganho da empresa é mais evidente, também é desenvolvimento pessoal, porque
também é “para mim”. Particularmente, como exemplo, são mais evidentes estas
afirmações quando olhamos mais profundamente para um processo de
desenvolvimento de líderes.
Posto isto,
passo a relatar uma experiência pessoal onde poderia ser dito que “tudo
conspirou para meu próprio desenvolvimento”, não fora eu uma pessoa com
tendência para atribuir tais fenômenos sempre ao acaso.
Quando entrei na Clearsale fiz uma dinâmica, com a Dra. Cecília Warschauer, denominada “brasão”, onde expressei esteticamente e simbolicamente uma série de questões sobre mim mesmo. Neste brasão apontei como ponto forte minha capacidade de liderança e formação de times. Em contrapartida, paradoxalmente, em outra parte do brasão apontei como ponto fraco minha capacidade de desenvolver as pessoas do time.
Quando entrei na Clearsale fiz uma dinâmica, com a Dra. Cecília Warschauer, denominada “brasão”, onde expressei esteticamente e simbolicamente uma série de questões sobre mim mesmo. Neste brasão apontei como ponto forte minha capacidade de liderança e formação de times. Em contrapartida, paradoxalmente, em outra parte do brasão apontei como ponto fraco minha capacidade de desenvolver as pessoas do time.
Esta era
uma deficiência que sentia de longa data. Nas empresas onde passei, deixei-me
afogar pelas urgências e sempre me sentia recorrentemente angustiado com falta
de tempo para o importante.
Por outro
lado desenvolvi verdadeira ojeriza por reuniões, de tal forma minha experiência
imposta com reuniões inúteis me traumatizou. Desta forma, para conseguir
realmente produzir, criei uma estratégia modificando minha sala de trabalho,
eliminando as famigeradas mesa e cadeira de gerente ou diretor e transformando
a sala numa sala de reuniões, sem nenhuma reunião recorrente, mas com dezenas
de microrreuniões, convocadas na hora, com as pessoas pertinentes para resolver
o problema do momento.
Entrando
na Clearsale repliquei este modelo, que realmente tem virtudes, mas não
soluciona tudo, e encontrei estabelecida a metodologia de Roda & Registro
da Dra. Cecilia, como alicerce no desenvolvimento das pessoas. Se uma roda não
é uma simples reunião, com certeza implica em reunir as pessoas e isto vinha
contra meu “uso e costume”. Por outro lado, não reunir é realmente absurdo se
pesarmos que queremos desenvolver equipes e pessoas.
Unindo
tudo isto, enfrentei minha antiga angustia e instituí o dia do importante. O
dia para acompanhar meus gerentes e especialistas, suas metas e seu
desenvolvimento. O dia para ser um líder de verdade, focando as funções mais
nobres do líder, o resultado e desenvolvimento das pessoas. Neste dia passei a
fazer a roda com meus gerentes e especialistas e começamos por refletir o tipo
de líderes que queríamos para a TI da empresa, as habilidades que este líder
tem de ter, um diagnóstico do nosso time no sentido comportamental e também
técnico, uma estratégia para aumentar a sinergia na TI, o plano de
desenvolvimento individual de cada líder e assim por diante.
Pude
aprender, na prática, que as rodas podem e devem se encadear como um corrente
crescente de crescimento pessoal e do time.
Paralelamente,
em uma roda dos sócios da empresa, com mais alguns diretores, passamos a
aprofundar a habilidade de gestão do tempo, com base na nossa experiência
compartilhada e também com base em saberes disponíveis no mercado. Isto
reforçou minha certeza da importância de ter o dia do importante ou o tempo
reservado para o importante.
Por fim,
tendo aquele brasão esquecido, mas guardado com carinho no armário, certo dia
emprestei minha sala para a Cecilia fazer a dinâmica do brasão com duas pessoas
da minha equipe. Normalmente eu deveria sair, porque sempre algo de muito
pessoal sai da dinâmica, mas as pessoas disseram que eu ficasse, porque havia
espaço para eu trabalhar num ponta da mesa enquanto eles faziam a dinâmica e
também, com certeza, porque confiam em mim.
Prometi
então, no final, mostrar o meu brasão esquecido e quando o fiz, vi que tudo
estava lá, a angústia original e o problema, que penso já evolui na solução,
tanto na prática, quanto dentro de mim, o que com certeza é o mais difícil.’
Obrigado
Mauro! Linda a teoria e principalmente o exemplo do teu crescimento pessoal! E
assim em rodas e registros acolhendo as pessoas com transparência
buscamos um ambiente auto formativo que traga além da felicidade pessoal um
grande ganho profissional. Vamos em frente sempre!