De outro lado, algumas experiências no meio empresarial mostravam uma abertura para o novo, para a reflexão e a inovação, para o crescimento profissional e pessoal dos funcionários, inclusive abrindo espaço para aspectos de desenvolvimento da sensibilidade, de habilidades relacionais, artísticas, emocionais, investimentos no autoconhecimento e na criação de condições para práticas colaborativas. Mesmo que movidas pelo aumento de produtividade e lucros, que também são responsáveis pela sobrevivência e sustentabilidade no mercado atual, abrem-se para "pensar fora da caixa", reinventando suas estruturas (inclusive por vezes as de poder) e reinventam formas de produzir riqueza e relações.
Formar lideres não é formar gestores, é formar pessoas inspiradoras e que se equilibram bem na balança dos números e dos afetos. Como viver sem eles, uns e outros? Precisamos de líderes nos condomínios, nas escolas, nos hospitais, nas empresas e na política. E política (a boa política) se aprende também na convivência nesses variados ambientes, quando estruturados por oportunidades para a reflexão, espaços sistemáticos para conversar e construir conhecimentos de maneira conjunta e sistemática (inclusive o conhecimento de si). Os Registros são ferramentas fundamentais nesses processos, pois dão profundidade, coerência e continuidade ao que se conversa nas várias Rodas que compõe esses ambientes. É a isso que tenho me dedicado há anos.
Foi o que fiz ao me dedicar ao projeto de formação humana na Clearsale e acompanhá-la em seus saltos de crescimento, mesmo contra todas as evidências de ser possível escalar (multiplicar, ganhar escala) ações de formação que têm em sua natureza a escuta, a acolhida da diversidade, tendo como constantes a mudança e a permanência. Mudança das estruturas para poder crescer, diante dos desafios do mercado. E, ao mesmo tempo, permanência de uma cultura de formação humana (profissional e pessoal) embutida no cotidiano de trabalho que se altera e se transforma sem parar. Contradições que não aceitam síntese teórica, ou um caminho linear e previsível, não admitem controle. E é ao abrir mão desse controle (tão caro a muitas organizações, inclusive as escolares), que é possível se lançar no "concreto das práticas, que nos convida a assumir a tensão e vivê-la na história", como diz Philippe Meirieu (Aprender... sim, mas como? Artmed, 1998).
É por isso que observar essa empresa e seus mais recentes desdobramentos é motivo de renovada esperança nesse caminho de lançar-se na prática e descobrir o caminho ao caminhar, juntos. "A prática é história e a história é a fugacidade, a passagem, o percurso, a transição, o conflito" (Meirieu, Op. cit, p. 38).